domingo, 30 de agosto de 2020

"Os 100 anos da dona Amene"






 Neste dia 31 de agosto de 2020, nossa querida comerciante Amene Uba está completando 100 anos de idade.



Passar algumas horas conversando na loja da dona Amene Uba, é o mesmo que entrar numa aula de história, onde ficamos conhecendo um pouco mais sobre a nossa cidade.Hoje, aos 100 anos, dona Amene é sem dúvida a mais antiga comerciante tresbarrense em atividade(Foto: Amene Uba)


Dona Amene nos conta que começou muito cedo a trabalhar no comércio auxiliando seus pais José e Happe Uba.Aos 12 anos , acompanhou sua tia Raja numa viagem ao Líbano.Ficou quase um ano naquele país.Com saudades, ela recorda da viagem de navio, que durou vinte e oito dias.
         Testemunha ocular dos vários momentos da nossa história, ela conviveu com o pessoal da Lumber, os tempos áureos do trem e da erva-mate, viu Três Barras se tornar município e o desenvolvimento do mesmo, até os dias de hoje. (Foto: Melissa e José).

No ano de 2008 foi homenageada com o título de Cidadã Honorária.
A respeito do movimento do comércio local, ela concorda que hoje, os melhores pontos comerciais estão próximos da fábrica de papel da West Rock (antiga Rigesa) ou seja:no quilômetro dois.Isso, diz ela, se deve ao esvaziamento do Campo Militar.Pois, as famílias que ali residiam, movimentavam o comércio da vila.
     Além de comerciante, dona Amene exerceu durante anos o ofício de costureira, tendo inclusive costurado vários vestidos de noiva.
       Dos tempos da sua mocidade, recorda dos bailes que aconteciam no Clube Entre Rios, Sociedade União Operária e no Cassino da Lumber.
Eram bailes muito elegantes.Tinha o baile da primavera, o baile da pelúcia e os bailes de São João, onde todos tinham que se vestir tipicamente.
       Através da sua simpatia, dona Amene se tornou uma tia muito querida pelos seus sobrinhos e os amigos da comunidade.
          Deixamos aqui a nossa homenagem à essa querida tresbarrense, na passagem do seu centenário.Parabéns dona Amene.


quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Contos:


“Russo, o cão peregrino”

                                                 (José Francisco)

Tarde de verão gostosa junto às sombras dos arvoredos, na praça diante da igreja matriz Cristo Rei, em Canoinhas.

A brisa suave que passava entre as ramagens dos arbustos em flor, complementava o sabor dos deliciosos sorvetes que a família degustava.

Um jovem casal tresbarrense e seus filhos (dois meninos e uma menina) após visitarem algumas lojas, resolveram descansar um pouco e comprar um sorvete.

A sombra convidativa na praça, foi a melhor escolha para escapar do sol quente de fevereiro.Enquantam descansavam, as crianças sentiram-se logo atraídas pela presença de um cachorro que dormia sossegadamente junto aos arbustos de Azaléia.

Era um cão de grande porte, parecendo ser um policial.Devia ser mestiço.Pois era todo peludo, coberto por uma bela plumagem marrom queimada, quase dourada.E tão logo recebeu os primeiros agrados, o cão se aproximou dócil e amigo.

 

- Mas como ele é mansinho!-exclamou um dos meninos.

- E bonito!-completou a menina.

- Pai, vamos levar ele para nós.-pediu o menino mais novo.- Este cachorro é muito especial.

- Com certeza tem dono.E não podemos ficar levando para casa todos os cachorros que encontramos por aí.-respondeu o pai.

       Enquanto os pais conversavam, as crianças continuaram a brincar com o cachorro, decidindo qual o melhor nome que combinava para o garboso animal.Por fim decidiram que Russo seria o seu nome.

- Russo?-extranhou a mãe.- De onde foi que tiraram essa ideia?Veludo ou Lanudo combinaria mais.

- É Russo!- confirmaram os três.

        Apesar dos choramingos e chantagens dos filhos, os pais não amoleceram.Se despediram do Russo deixando-o na praça e continuaram o passeio.

       Uma semana mais tarde, o casal e as crianças estavam novamente em Canoinhas e na sorveteria junto da praça.Bastou se acomodarem numa sombra, para o Russo aparecer.

- Mãe, veja!É o Russo!- exclamou a menina radiante.

- Será que ele mora aqui na praça?- desconfiou um dos meninos.

       E novamente as crianças se puseram a brincar com o cachorro que parecia perdido e necessitava de carinho.

       O pai já um tanto amolecido pela insistência dos filhos em querer ficar com o Russo, resolveu se informar com um motorista do ponto de táxi que ficava ali perto.Talvez ele soubesse de quem era aquele cachorro.Não demorou muito e o pai voltou em companhia do taxista que foi logo informando, que aquele cachorro estava vagando pela praça desde o Ano-Novo.Era um cão sem dono.

      O taxista comentou ainda que devido os foguetórios das festividades de final de ano, muitos cães se assustavam e acabavam fugindo das suas casas.Alguns conseguiam voltar depois de alguns dias, mas outros acabavam se perdendo e desapareciam.Lembrou também de muitas famílias ingratas, que ao  mudarem para outra cidade, acabavam abandonando o animal de estimação à própria sorte.Acariciando a cabeça do cachorro, disse ainda o taxista, que se ele já não tivesse um cachorro em casa, teria adotado o Urso (era como ele chamava o cachorro).

       Foi assim que Russo ganhou um novo lar e passou a residir com a simpática família no centro de Três Barras.

      Sua nova morada era uma casa antiga de madeira, com sótão e varanda.Os beirais da casa ainda eram rendados e neles haviam entrelaçados os ramos de uma linda trepadeira de flores alaranjadas, dando um ar nostálgico à casa mais antiga da rua.

     Nos fundos da casa o terreno era grande e espaçoso.Russo tinha sua própria casinha e um bom local para correr e brincar.Também gostava de passar as tardes dormindo na varanda da casa, que era sempre ensolada.

      Durante algumas semanas, Russo se mostrou muito amável e obediente.Porém, bastou se acostumar com o local e logo começou a fugir, saltando muros, cercas ou grade qualquer.

Nada segurava aquele cachorro fujão.Saía pela manhã, mas retornava na hora do almoço ou ao anoitecer.Ficava um dois dias sossegado em casa, mas logo fugia novamente.

       De repente, numa dessas escapadas, Russo não voltou mais...

Preocupada, a dona da casa e as crianças saíram a procurar na vizinhança e acabaram encontrando o folgazão bem hospedado na casa de uma doceira, que ficava próxima de uma escola.Na casa da doceira já havia uma cachorra marrom chamada Lassie.

Conversa vai, conversa vem, a doceira contou que o Russo não incomodava.Havia ficado amigo da Lassie e de todos da casa.Sempre que ela dava comida à Lassie, alimentava também o Russo.

     As crianças agradaram e paparicaram o cachorro, fazendo com que ele voltasse para casa.Mas, a estadia do Russo durou pouco.No outro dia já estava novamente na rua.

   Um fato curioso começou a acontecer entre o cachorro e a escola.Sempre que soava o sinal do meio-dia e das dezessete horas, Russo ia para junto do portão da escola e lá ficava como se esperasse por alguém.A princípio os alunos se mostraram receosos diante do grande porte do animal.Mas, com o passar dos dias descobriram a sua docilidade e passaram a brincar com o malandro.

   Houve até um aluno que trouxe uma coleira e corrente e na saída da escola, amarrou o cachorro e o levou embora.Ter um cachorro bonito daqueles como mascote, era o sonho de todo garoto.Doce ilusão!Bastou o menino sair para escola no dia seguinte, que Russo arrebentou  a corrente e fugiu retornando à casa da doceira.

  O casal que o havia trazido para Três Barras até pensou devolvê-lo ao seu local de origem: a praça em Canoinhas.Porém, tinham pena de entregá-lo à própria sorte.Tanto o casal, quanto as crianças decidiram deixar que Russo ficasse livre para ir e voltar.As portas da casa ficariam sempre abertas para ele teria água e comida, toda vez que resolvesse aparecer.

  Em algumas ocasiões, quando o patrão retornava do trabalho, com seu automóvel e avistava o Russo perambulando em alguma rua, freiava, abria a porta lateral e o bichano entrava sem cerimônia.Acomodava-se no banco ao lado do motorista, como se estivesse usando um táxi para voltar à casa dos seus donos.

  Fujão, bonitão, um garboso animal que amava a liberdade.Peregrinando nas emediações da escola, entre uma casa e outra, resolveu adotar uma agência eletrônica como seu novo lar.Quase todos os dias é possível encontrá-lo  deitado feito um guarda, junto à porta da eletrônica.Outro dia, quando sua dona por ali passava, avistou o cachorro e comentou com o dono da eletrônica a respeito do malandro.

- Agora ele se chama leão.- informou o homem.

- Leão?Um russo que virou leão...-pensou a mulher consigo mesma continuando a sua caminhada.

     Enfim, esta é a história de um cachorro  que como tantos outros, vemos a vagar sem destino pelas ruas e praças, sempre na esperança de um lar acolhedor.

 

F I M

(Agosto/2020)